Para Josep Muñoz Redón, “a gastronomia é a arte de condimentar os alimentos para produzir a felicidade”, assim como “a filosofia é o engenho de cozinhar as idéias para obter perguntas”. Juntar filosofia e gastronomia não é uma novidade. No início do século XIX, Charles Fourier já chamava a reflexão sobre as relações entre comida e pensamento de gastrosofia. O que é notável na obra de Redón é como consegue apresentar tão bem tantas idéias, como é amplo o seu cardápio!
Os sistemas filosóficos de pensamento não são estranhos aos processos do apetite e da digestão. As idéias, assim como os pratos, também são preparadas, desejadas, cozidas, digeridas e oferecem, mais do que analogias, conexões complexas e imprevisíveis.
Segundo Redón, “o entendimento não digere bem as idéias cruas”. Como se cozinham as idéias, “no ar, na água ou no óleo”, como são temperadas e, especialmente, qual o molho de cada filósofo?
De La Mettrie, o materialista que morreu de um patê de estragado, a Francis Bacon, que faleceu por tomar friagem ao tentar conservar uma galinha com neve, o tema da comida perpassa, e por vezes até encerra, a vida e a obra dos filósofos. Rousseau está para a alface e os lácteos assim como Voltaire está embebido em café.
Este livro é uma sintética e abrangente aula sobre a história do pensamento e da vida de alguns grandes filósofos que, para levantar essas questões, adota como fio condutor a sua relação com a comida. Assim, para cada filósofo, uma receita emblemática será proposta e um pequeno enigma para a sobremesa dará o espírito alegre e curioso que inspira este banquete de saberes e sabores.
Henrique Soares Carneiro
Professor do Departamento de História
da Universidade de São Paulo
- Ficha Técnica:
Muñoz Redón, Josep.
A cozinha do pensamento: um convite para compartilhar uma boa mesa com filósofos; tradução de Sandra Trabucco Valenzuela. – São Paulo: Editora Senac, São Paulo, 2008. ISBN 978-85-7359-679-3 / 224 páginas.
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Mandou bem thé!